BAIRRO COMUNIDADE SEPÉ TIARAJÚ
Quando os de baixo se mexem, os de cima caem!
Opinião de militantes da Resistência Popular que estiveram desde o inicio da ocupação construindo o Bairro Comunidade Sepé Tiaraju.
A cidade de Alegrete sempre foi carente de políticas habitacionais. Boa parte dos Bairros da cidade surgiram a partir de ocupações urbanas. No final da década de 90, mais precisamente em 1999, aconteceu uma série de ocupações urbanas em Alegrete: na Av. Rondon (nos dois lados), no Trevo da BR 290, na SANA e a primeira e maior de todas que foi a ocupação entre a Vera Cruz e a Vila Grande, que deu origem ao Bairro Comunidade Sepé Tiarajú. A ocupação possuía aproximadamente 500 famílias. Em junho de 1999, de forma espontânea, iniciou-se a ocupação que deu origem à Comunidade Sepé Tiarajú. Depois de muita luta e organização, de haver sido a área adquirida pelo poder publico, foi instalado o Bairro Comunidade Sepé Tiaraju e em outubro de 1999 foi fundada sua Associação de Moradores.
Nos primeiros dias de ocupação foi organizada uma Coordenação que tinha a finalidade “auto-gerir” o movimento. Buscaram-se vários apoios, sendo que dos principais parceiros podemos citar: Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias da Alimentação de Alegrete, Sindicato dos trabalhadores no Comércio, Sindicato dos Bancários, Sindicato dos trabalhadores em Transporte, Sindicato dos Trabalhadores na Saúde, Sindicato dos Eletricitários e o Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM). A UABA nos primeiros dias de ocupação buscou informações sobre o terreno, e se fosse área publica daria apoiou, como era área privada, disse que não se envolveria e aconselhou os ocupantes a desistirem da ocupação, não se envolvendo mais. O Partido do Governo (PP), e demais partidos de Direita, padres e patrões nos insultavam, nos atacavam na imprensa, dizendo que “(...) não conversavam com invasores!”
A área ocupada pertencia à sucessão de Neiva Medeiros, sendo que a propriedade possuía uma grande divida em impostos. Houve ordem de “reintegração de posse” e despejo, veio a polícia de choque de Livramento para nos tirar. Exército nos cercou, apontavam carros de combate para nós, patrulhas militares entravam na ocupação de dia e de noite, eram feitos disparos de fuzil na beira do mato próximo à ocupações numa tentativa de nos intimidar. Foi negociada a desapropriação do terreno. Fizemos uma grande articulação e mobilização: entramos em contato com a Secretaria de Habitação do Governo do Estado e fomos até Porto Alegre reinvidicar verbas para adquirir a área. Fizemos uma passeata até a frente da Prefeitura e no mesmo dia em que houve audiência no FORO e na Prefeitura. O município entrou com parte das dividas em impostos e o Governo do Estado com o restante em parcelas.
Durante os primeiros anos de existência do Bairro sofremos todo tipo de represálias pelo Governo Municipal, na época PP. Não aceitavam que a Diretoria do Bairro fosse independente, defendesse a independência do povo em relação aos partidos e ao Governo, não aceitavam que a diretoria do Bairro fosse democrática e primasse pela participação da comunidade, a Diretoria não aceitava ser capacho dos políticos e patrões. Hoje em dia vemos a Direita (Partidos que sempre foram contrários a mobilização popular, contrários a democracia direta e de base, que apoiaram a Ditadura Militar, que apóiam as elites do campo e da cidade no sentido de explorar os peões e trabalhadores) posarem de mocinhos e bonzinhos com a Sepé. A custa de que? Do que? A custa da não participação, da não opinião, da não mobilização e em troca de votos e apoio para as elites do campo e da cidade.
Nos primeiros anos de existência do Bairro Sepé Tiarajú, buscou-se manter a autonomia em relação aos políticos, partidos e governos. Todas as conquistas eram feitas com a participação e a mobilização dos moradores de forma independente. Desde a conquista do terreno, as medições dos lotes, o arruamento, saneamento, iluminação, o ônibus, projetos sociais, etc. Éramos o Bairro mais democrático da cidade e encarávamos de frente a política “mandonista” e “subserviente” da UABA. Realizávamos varias Assembléias de moradores por mês, possuíamos coletivos para executar as reivindicações, fazíamos atividades culturais como no aniversario da morte de Sepé Tiarajú, no dia das Mulheres, no 1º de Maio, etc.
O poder do Povo esta em sua participação, organização e mobilização (na ação direta).
Defendemos o poder popular, que é a capacidade de realização que parte do povo organizado e mobilizado.
RESISTÊNCIA POPULAR GAUCHA – ALEGRETE
Maio/2010
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